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AS MULHERES NO MERCADO DE CRIPTO BRASILEIRO

Há muitas décadas, estamos acompanhando o processo de conquista do mercado de trabalho por parte das mulheres. Sabemos que ainda existem muitos desafios nesse sentido. Mas como essa questão está colocada no mercado de cripto?

Por ser uma área nova, era de se esperar que ela não repetisse o mesmo padrão de outros ambientes mais tradicionais. Mas, infelizmente, a realidade não é bem essa. A seguir, vamos mostrar quais são os desafios que as mulheres ainda enfrentam no mercado de cripto brasileiro e apresentar iniciativas que buscam mudar esse cenário. Acompanhe.

O CENÁRIO DE GÊNERO NO MERCADO DE CRIPTO MUNDIAL E BRASILEIRO

O mercado de cripto tem sido aberto à participação de mulheres? Imagem: Blockworks.

A web3 foi criada para ser democratizante, e o metaverso permite que cada um assuma uma identidade que não precisa ter ligação direta com a do mundo físico. Nesse contexto, era de se esperar que características como o gênero de um profissional dessa área fossem irrelevantes para a sua inserção no mercado.

Mas, infelizmente, a história não é bem assim. O mercado de cripto está inserido dentro da sociedade de forma mais ampla, e enfrentar as barreiras que são impostas na nossa convivência cotidiana também é algo que precisa ser feito nesse novo ambiente.

Segundo a Forbes, a proporção de mulheres em cargos de liderança em empresas financeiras é de 22%. No mercado de tecnologia, elas são 29% da força de trabalho. Já no ramo de tecnologia financeira, elas são apenas 7% das fundadoras de empresas. Além disso, segundo relatório da ArtTactic, as mulheres são apenas 16% dos artistas do mercado de NFTs.

Esses são apenas alguns números que mostram como a realidade global do mercado de tecnologia contemporâneo ainda é marcada por questões de gênero.

Roberta Antunes, diretora de crescimento (CGO) da Hashdex, explica que: “O mercado de cripto acaba sendo a interseção entre o mercado financeiro e o mercado de tecnologia. Historicamente ambas essas indústrias têm presença predominantemente masculina.”

No Brasil, o cenário não é muito distante da realidade global: as mulheres também são minoria no mercado de cripto. Mas a nossa situação é um pouquinho melhor que a média: 11% dos investidores em criptomoedas no Brasil são mulheres. Por mais que isso seja muito baixo, é o dobro da média mundial, que é de 5%, segundo o Mercado Bitcoin.

É verdade que é difícil precisar esses dados. Segundo levantamento do Relatório Global sobre Mulheres e Criptomoedas, a participação global das mulheres nos investimentos em cripto é de 25%. O estudo foi feito pelas pesquisadoras Marina Spindler e Paulina Rodriguez.

A comparação feita pelo Mercado Bitcoin reflete os investimentos feitos na corretora e em correspondentes internacionais. Mas, de toda forma, nos ajuda a comparar a proporção global com a brasileira.

Segundo a Brasscom, 37% dos trabalhadores do setor de tecnologia da informação e comunicação no Brasil são mulheres. No entanto, segundo o Caged, a participação de mulheres no mercado de tecnologia brasileiro cresceu 60% nos últimos 5 anos.

Como é possível perceber pelos dados, a participação das mulheres no mercado de cripto brasileiro é um pouco maior que a média global, mas, ainda assim, está longe de ser equiparada à presença masculina.

AS TRAJETÓRIAS DE OCUPAÇÃO DA WEB3 POR MULHERES

Cathy Hackl é a primeira diretora de metaverso do mundo. Imagem: Cathy Hackl.

Apesar do cenário desfavorável, existem empreendedoras e profissionais com alta qualificação e experiência ocupando esses espaços e fazendo a diferença no mercado da web3.

É o caso de Cathy Hackl, por exemplo. Ela é a primeira diretora de metaverso do mundo, atuando na empresa Journey e ajudando algumas das maiores marcas internacionais a entrarem no metaverso. Ela é jornalista, passou pela comunicação corporativa e acabou levando suas habilidades de contar histórias para o desenvolvimento do metaverso.

A especialista em marketing no espaço blockchain Anne Marie Alanes, em entrevista ao Picture This, disse o seguinte: “Acho que devemos parar de nos voltar para como não há mulheres suficientes nesse espaço e, ao vez disso, devemos nos concentrar em promover mulheres para cargos públicos e de liderança.”

Amanda Marques, executiva da Lumx Studios, explica que a transição do mercado de trabalho tradicional para a web3 não é um mistério: “A web3 não é um lugar completamente diferente, é só um ‘upgrade’ das relações e da maneira de ver o mundo no longo prazo, com mais transparência, segurança e oportunidades.”

Existem grandes projetos internacionais que visam a inclusão feminina no universo da web3. Entre eles, estão as comunidades em torno de coleções NFTs como World of Women, Boss Beauties e Women Rise. Elas têm sido chamadas, inclusive, de “Feminismo NFT”.

INICIATIVAS BRASILEIRAS

Rafaela Romano e o Mulheres Falam sobre Bitcoin. Imagem: Disruptivas.

No Brasil, também há mulheres que se destacam empreendendo na web3 e criando comunidades que visam incluir e capacitar outras mulheres, além de disponibilizar um ambiente seguro em que elas possam aprender e compartilhar experiências.

Uma delas é Rafaela Romano, cofundadora da Impacta Finance. Através do projeto Disruptivas, ela busca informar e compartilhar sua experiência com outras mulheres.

Segundo Rafaela: “A falta de mulheres no setor foi uma das questões que mais me chamou atenção. Por isso, eu criei o Mulheres Falam sobre Bitcoin, focando em ensinar mulheres como comprar, negociar e usar criptomoedas.” Além de empreendedora no mercado de cripto, Rafaela também é mestra em Antropologia Social.

Ela comenta, como exemplo da desigualdade entre os gêneros, sobre a presença feminina em cursos de computação da USP. Segundo a antropóloga, as mulheres eram a maioria nesses cursos até a década de 1980, quando o foco deles era a licenciatura. Porém, a área começou a se voltar mais para games e competições, e o percentual de mulheres nos cursos despencou.

Rafaela explica: “À medida que o campo de tecnologia é associado com atividades masculinas, as mulheres sentem-se como se não devessem fazer parte desse mundo.” Mas, para ela, isso vem mudando com o tempo: “Nos últimos anos, estamos tendo cada vez mais mulheres entrando na área, democratizando o acesso e ampliando cada vez mais o setor.”

EVE E A POTENCIALIDADE DE SE TER REFERÊNCIAS

As fundadoras da EVE representadas por NFTs criados pela DAO. Imagem: EVE.

A DAO brasileira EVE busca empoderar mulheres para estarem à frente da web3. Ela foi fundada por 10 mulheres: Ana Laura, Cintia Ferreira, Elektra, Kim Farrell, Nina Silva, Núbia Mota, Paula Lima, Roberta Antunes, Samara Costa e Simone Sancho.

A EVE se apresenta desta forma: “Uma DAO construída por mulheres que são referência nas áreas de tecnologia, cultura, empreendedorismo e mercado financeiro. Juntas, acreditamos que é possível criar uma web3 inclusiva e representativa. Estamos tomando iniciativas para aumentar a diversidade através da educação e independência financeira.”

No eixo de educação e liderança, a EVE se preocupa em criar conteúdo livre e de alta qualidade para contribuir com a formação e capacitação feminina, proporcionando tanto mentorias quanto imersões online e presenciais.

Além disso, a EVE busca também ajudar na promoção da independência financeira de todas as mulheres interessadas em atuar nesse mercado, aproximando-as de oportunidades e estimulando o seu desenvolvimento.

Roberta Antunes, uma das fundadoras da EVE, acredita que não dominar os conhecimentos tecnológicos necessários é uma das maiores barreiras para a presença feminina nesse mercado. Outro ponto que ela destaca como dificultador é a falta de domínio do inglês.

Sobre o papel das fundadoras da EVE, Roberta diz o seguinte: “Confesso que demorei um tempo para entender a importância de exemplos para inspirar as novas gerações. Mas pesquisas recentes mostram que mais de 60% das mulheres acreditam que não podem atingir cargos de liderança pela falta de exemplos de liderança feminina.”

Essa percepção fez a diferença na trajetória de Roberta, que conta:  “Por isso, resolvi ser mais vocal sobre o assunto e espero que minha trajetória possa inspirar outras mulheres a crescerem profissionalmente.”

CORA: ESPAÇO DE TROCAS E CONEXÕES

Primeiro encontro presencial da Cora em São Paulo. Imagem: LinkedIn/Cora.

A Cora é outro grupo de mulheres brasileiras na web3. Ela se define como “uma comunidade de mulheres que buscam se conectar e cocriar uma web3 mais plural e inclusiva”. O nome do grupo é inspirado na poeta Cora Coralina. Para as criadoras do projeto, não existe outra maneira de ampliar o espaço feminino na web3 que não seja por meio da colaboração.

Essa comunidade pretende ser um lugar seguro para aprender, fazer conexões e trocas sobre projetos e oportunidades. Além das interações online, o grupo também organiza encontros presenciais para troca de ideias.

A Cora foi fundada por duas mulheres. Bianca Brito trabalhou por mais de uma década em agências de publicidade, participando do posicionamento de marcas como TikTok, Toyota, Arezzo e Ambev. A outra cofundadora é Amanda Marques. Ela é engenheira de produção e participou na construção e reposicionamento de marcas de tecnologia e marketing.

Bianca Brito conta sobre como surgiu a iniciativa: “A Cora nasceu há 4 meses, de uma insatisfação de ver tão poucas mulheres dentro do mercado de web3. Eu ia em eventos e, além de ver poucas mulheres na plateia, também via poucas mulheres palestrando.”

“Hoje, somos quase 250 Coras, temos encontros semanais com Coras ensinando para Coras, de forma gratuita, diferentes temas de web3.” – conta Bianca.

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Imagem de capa: Coinbase.

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